Jornais venezuelanos podem deixar de circular por falta de papel

O diário El Nacional de Caracas, um dos mais tradicionais da Venezuela, deixou suas manchetes em segundo plano na edição desta sexta-feira para abrir a publicação com uma carta aberta ao presidente Nicolás Maduro. A medida foi tomada em meio a uma crise inusitada enfrentada pelo jornalismo do país: grandes veículos passam por dificuldades para continuar existindo em suas versões impressas por conta de falta de papel.

O caso do El Nacional, fundado em 1943, é só mais um dos diversos casos registrados nos últimos meses.Sem receber dinheiro para importar papel desde maio de 2013, quando teve acesso a US$ 3,3 milhões repassados pela Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), o grupo responsável pelo jornal se diz perto do limite para seguir imprimindo suas informações.

“Esse atraso não apenas gera inconvenientes com provedores internacionais, mas também afeta o direito dos venezuelanos de se informarem, um valor democrático”, escreveu o editor Miguel Otero, do El Nacional, que afirmou que os concorrentes El Universal e Ultimas Noticias passam pelo mesmo problema.

O Instituto de Imprensa e Sociedade Venezuelano (Ipys, na sigla em espanhol) estima que, na primeira quinzena de 2014, ao menos 21 jornais impressos de nove Estados do País reportaram dificuldades para adquirir papel por restrições na entrega de divisas. Desde setembro, sete periódicos deixaram de circular de fim de semana ou permanentemente. Outra prática comum tem sido reduzir o número de páginas.

Na Venezuela, um país dependente de importações, vigora um severo controle de câmbio desde fevereiro de 2003. Por conta da revolução chavista, se tornou mais difícil para empresas de imprensa conseguiram repasse de dinheiro do setor privado.

Em análise do caso, o jornal espanhol El País defende que a falta de atitude do governo diante da crise da imprensa se dá pelo interesse em dificultar o acesso da população a diferentes fontes de informação.


Fonte: Terra